segunda-feira, fevereiro 11, 2008

No meu ombro esquerdo

Vida vazia e os pés descalços. O mundo já não era um bom lugar para um homem que perdera tudo em que acreditara por toda a sua vida. Ele não tinha mais honra.
Doze anos dentro de um mesmo lugar, vendo sempre quase as mesmas pessoas. A Cela 103b já era o que havia de mais familiar para o Zé do Cadeado.
Ele ganhou esse apelido após ser pego no flagrante fazendo sexo com um cadeado grosso, quando tinha 14 anos. Os meninos que o flagrou não tiveram como provar o acontecido, mas a fama e o apelido pegaram. Pegou e não saiu mais. Então o José de Arimateia, virou Zé do Cadeado. Hoje 56 anos, preso em uma prisão de segurança máxima no interior de Minas Gerais.
O crime que ele cometeu chocou a cidade. A pequena cidade de Mariana, também interior de Minas Gerais. Esse crime aconteceu no reveillon de 1989. E foi um bafafá na cidade. Todo mundo deve se perguntar o que foi que o Zé do Cadeado fez. Talvez possamos imaginar que tenha sido algo relacionado a sexo. Um estupro a alguma garotinha indefesa. Mas não foi nada disso. O crime que Zé do Cadeado cometeu foi assassinato.
Zé do Cadeado matou um amigo de infância a sangue frio. Todos julgaram o Zé, mas ele tinha os seus motivos.
Pois bem vou-lhes contar o fato. Que nada mais irá passar de um relato, de um menino que foi testemunha do que aconteceu.
A festa estava boa, no casarão do Albano, um vereador da cidade. Tinha de tudo comida bebida, gente bonita. Era a maior desta de todos os tempos na nossa cidade. Todo mundo bebeu, comeu. Nossa! Foi uma maravilha. Lembro de ver o Zé abraçado com o seu melhor amigo o Ambrosio.
O Ambrosio era um filho de um fazendeiro rico da cidade, muito brincalhão. Todos o adoravam, inclusive as meninas, que viam o marmanjo como o melhor partido da cidade. Porque além de rico o cara era bonito. Isso eu não posso negar.
Pois bem. O Ambrosio brincalhão como era, resolveu ir na varanda da casa e antes que o Zé do Cadeado pudesse entrar o Ambrosio puxou a porta e a fechou. O Zé tentou abrir e não conseguiu. O Ambrosio não parava de rir. Ria ria e ria. Falou que o Zé não conseguiria abrir daquele jeito. Foi então que o Zé bobo perguntou:
_ Uai! Se não for assim como vou abrir SÔ?
_ Ah! Faz como você fez quando era criança, enfia a sua chave mestra na fechadura.
O Zé não levou na brincadeira. Na hora só eu que estava presente vi a face do Zé mudar de figura. O cara parecia estar possuído. De repente o Zé deu um soco na porta de vidro da varanda derrubando-a. pegou o Ambrosio pelo pescoço e o jogou contra a parede.
Coitado do Ambrósio deu má sorte. Caiu por cima de uma samambaia e bateu de cabeça no pregador que a segurava na parede e morreu.
Nossa isso abalou a cidade e a minha vida. Eu tinha 6 anos, e mais do que isso. O sangue do ambrosio até hoje esta marcado aqui. No meu ombro esquerdo.

2 comentários:

Isis Tatiane disse...

etah nossa...
"O sangue do ambrosio até hoje esta marcado aqui. No meu ombro esquerdo."
profundo isso vice!
bjs...

aproveita e olha o meu.

Diogo Rocha Braga disse...

o nosso sangue
No meu ombro posso suportar as dores do mundo,e também ter a esperança de ver os raios do sol iluminar você,imaginar que nessa jornada a sua vontade em querer vencer,podem marcar todos os nossos passos,por onde quer que vc vá,nas derrotas e vitórias,o seu sangue deixará os rastros dessa nossa trajetória
Acredite,esse líquido o qual,corre em suas veias o torna forte.
O ser capaz de vencer qualquer tipo de esporte