segunda-feira, março 23, 2009

Tanta SAUDADE

CONTO

“Batata palha no arroz deixa ele muito saboroso”, diria meu velho amigo Pedro se vivo estivesse. O fascínio pela culinária nos aproximou. Ele um estudante de informática e eu terminando o terceiro ano. Comédia. A diferença de idade não nos inibia. Éramos um só. Ele a consciência e experiência, eu a juventude e a aventura.
Nos conhecemos através da minha irmã. Ela tinha um namorado freqüentador das aulas com o Pedro e como ela é muito ciumenta resolveu freqüentar as aulas também. Pedro logo se aproximou dela e eles fizeram logo amizade.
A primeira vez que vi aquele rapaz alto, moreno e de cabelos partidos no meio fiquei fascinado com sua forma de expressar. Um comunicador por natureza. Ele via em mim um menino travesso, mas com potencial.
Com um ano e meio de amizade todos nos olhavam diferente, nossa empatia assustava. Éramos vitima de preconceitos e comentários bastante maldosos. Sabíamos lidar com isso. O importante era o sentimento ambíguo.
Pedro ficou doente. Pegou uma doença incurável através de relação sexual. Apesar de ser homossexual acabou se envolvendo com uma garota portadora do vírus da AIDS. Não me conformei, precisava de um tempo para digerir aquilo e abandonei Pedro. Ficamos quase um ano sem nos ver, apesar dele me ligar eu não atendia.
Estava deitado no meu quarto ouvindo um cd do Queen quando minha irmã chegou chorando. Me pegou em seus braços e me falou gritando “Pedro morreu”. Não acreditei. Fui correndo até a praia e chorei. Relembrei todos os nossos bons momentos e voltei para casa. Pensei muito nele. Chorei mais um pouco e fui dormir. No outro dia não consegui fazer nada e a tarde queria descansar, sai fui até a praia para ver se o vento ainda estava forte. Segui as pedras matando o tempo, eu faço isso para esquecer. Eu deixo as ondas me acertar e deixando o vento levar tudo que sinto. Me distraio vendo a linha do horizonte e lembro quando olhávamos juntos na mesma direção. Onde Pedro estará agora alem de aqui dentro de mim?
Já faz 10 anos da morte de Pedro e até hoje me sinto culpado de não ter tido coragem de aceitar aquela situação. Pedro para mim hoje é saudade.

PS. SIM, ESSE CONTO É BASEADO NA MÚSICA VENTO NO LITORAL DE RENATO RUSSO

Nenhum comentário: